O dia em que meu mundo parou

Posted by Debbys On domingo, 26 de julho de 2009 12 Insanidades
Era uma segunda-feira normal, início de julho de 2007. Eu voltava de mais um dia cansativo de cusinho e, logo depois do almoço, resolvi tirar aquela soneca. Lá pelas 16:00hs [sim, eu me lembro bem dos horários] minha irmã me acordou chorando. Ela havia ligado para o celular da nossa mãe, que estava em São Paulo numa viagem a trabalho [ela era fotógrafa], e um policial foi quem atendeu, comunicando que ela sofrera um acidente automobilístico e que estava no hospital. Ainda sonolenta tentei primeiramente acalmar minha irmã. Não, eu não estava preocupada. Devia ter sido uma queda da moto ou algo assim. Ligamos para o meu pai que, cerca de uma hora depois, chegou, bem nervoso. Daí começaram as ligações pra tentar descobrir o que havia acontecido e como minha mãe estava. Minha irmã continuava chorando, meu pai continuava nervoso, minha avó tentava acalmá-lo e eu continuava calma, pensando sempre positivo. Afinal, sempre me disseram que notícia ruim chega rápido.

Enfim uma notícia chegou: ela sofrera um acidente de moto com o amigo dela. Um carro teria os fechado e ocorreu uma queda, mas minha tia que mora em Santo André já estava lá no hospital. Os ânimos acalmaram um pouco, mas algum tempo depois o nervosismo voltou. Simplesmente ninguém mais atendia nossos telefonemas. Tia, tio, prima, e até o celular que estava com o tal policial. Foram quase duas horas de agonia, tentando falar com alguém em Sampa. Devia ser quase 19:00hs quando o tio do meu pai ligou. Eu continuava dizendo para minha irmã que estava tudo bem. No máximo ela devia ter sofrido algumas escoriações. Meu pai estava mudo, e ficou assim durante os dois minutos de ligação e quando ele desligou veio a frase que também nunca mais me saiu da cabeça: "as notícias são as piores possíveis". Como assim? O que afinal tinha acontecido? Será que ela tinha machucado muito? Será que estava inconsciente ainda? Sofrera algum dano grave? Em nenhum momento passou pela minha cabeça a palavra morte. Não até meu pai começar a chorar desesperadamente e agarrar a mim e a minha irmã, num abraço forte e dolorido. Foi aí que a ficha caiu.

O meu maior medo havia se concretizado. A morte bateu cedo demais a nossa porta. Fiquei desnorteada, empurrei meu pai e fui pra sala. Andava de um lado para o outro sem saber o que fazer. Corri para o telefone e disquei o número do meu namorado. Só conseguia chorar e balbuciar que minha mãe havia morrido. Ele mandou eu esperar que ele estava vindo pra minha casa. Logo depois disquei o número de uma grande amiga minha. Não sei porque liguei pra ela, se pelos 10 anos de amizade, ou só para ouvir a voz calma dela, mas ela entrou em pânico e falou algo de estar vindo aqui. Meia hora depois as pessoas começaram a chegar. Meus três tio que moram em BH, meu namorado e minha sogra, minha colega e a mãe dela. Acho que ninguém estava acreditando ainda.

Meu namorado ficou quase a madrugada toda comigo, calado, mas me abraçando com todas as forças. Foi aí que, do nada, senti uma força surgir dentro de mim. Meu pai e minha irmã precisavam da minha calma. Respirei fundo, enxuguei as lágrimas. Achei que eu precisava dar uma satisfasção aos amigos dela. A notícia já teria se espalhado e, quando me conectei à internet, já havia várias mensagens desesperadas no meu orkut. Respondi a todos, avisei os que ainda não sabiam, atendi aos telefonemas. Meu namorado precisou ir e eu fui descansar. Dormi junto da minha irmã na sala, mal, mas dormi. Acordamos com meu pai sentado ao nosso lado, aos prantos. Ele nos olhava com tanta piedade que até dava medo.

No fim da tarde já estávamos em Perdões [cidade Natal dos meus pais], e meu primeiro baque chegou: ir visitar meus avós maternos. A família toda estava lá. Minha avó estava na cama, medicada, chorando muito e, mais uma vez, surgiu aquela força de não sei onde, e passei muita calma para ela. Eu sabia que ela sofria muito, pois minha mãe era o quarto filho que ela perdia. Ficamos pouco por lá, pois o segundo baque estava chegando: ir para o velório. E foi um aperto tão forte que senti no peito quando me aproximei do caixão. Ela estava de amarelo, coberta por margaridas. Ela, sempre tão alegre, sorridente, extrovertida, deitada ali, sem vida, gélida. Me lembro de ter ficado o tempo todo segurando sua mão. Acho que eu esperava sentir o calor do corpo dela, saber que tudo era um pesadelo. Meu pai às vezes vinha, me abraçava. Minha irmã estava no fundo da igreja, sem coragem para ir até lá. Acho que, lá pelas 4 da manhã conseguiram me levar pra dormir. Minhas pernas já estavam bambas, eu não lembrava a última vez que havia comido, e meu namorado também devia estar exausto, já que ele quem estava ali, me segurando.

Só preguei os olhos depois de muito cafuné do amado, e alguns minutos depois já estava de pé novamente. Seguimos para a igrejinha, rezamos a missa e, meu terceiro e último baque: fechar o caixão. Acho que foi o momento em que mais chorei. Saber que nunca mais a veria em corpo, que era tudo verdade fez meu coração doer muito. O resto foi resto, enterro, família, pessoas desconhecidas. Voltamos no mesmo dia para casa.

Algum tempo depois soubemos que o acidente tinha acontecido no domingo, e que ela só sofrera aranhões. Na segunda ela passou mal e teve uma parada cardíaca, vindo a falecer às 15:00hs da segunda-feira. Ou seja, por todo aquele tempo ela já não estava mais aqui, desde o policial no celular até a notícia chegar. Ainda hoje eu choro, sinto sua falta, sonho com ela todas as noites, mas nessa vida temos que aprender a seguir em frente, aceitar o que Deus impôs, por mais sofrido que seja. Sei que ela está em um lugar melhor, olhando por nós, nos dando forças, e principalmente sendo minha querida e amável mãe.

^^

PS: enfim, achei que chegou o dia de compartilhar com meus leitores esse dia, que creio que nunca vou esquecer.

12 Insanidades:

Thaís A. disse...

Nossa Debbys, que trsite :/ Nunca perdi ninguém que seja tão próximo assim, e espero que isso demore.
Mas o melhor mesmo, é cabeça pra frente e saber que a sua mãe sempre te amou, e ela sempre estará com você :')

Joyci Dias disse...

Nós não fomos criados para perder, é ter, ter, ter e conquistar. É sempre assim a nossa educação e quando chega a hora dói, dói, dói muito.
Eu apesar de pouca idade, já perdi várias pessoas importantes. Mas, a minha mãe ainda está comigo... Felizmente!
Só me resta a te desejar, depois de engolir um nó enorme que se formou na minha garganta enquanto lia o texto. Os meus mais sinceros sentimentos.

beijos.

'cary. disse...

aaaaaaaaaaaaaaai amr, não tenho outra coisa a dizer a não ser que isso é triste demais :S eu sei que posso dizer que é normal, que todo mundo vai morrer, mas eu sei também que nao é isso que se gostaria de ouvir então só digo que ela, esteja onde estiver, vai estar olhando e cuidando de você *-*

Cadinho RoCo disse...

Emmomento assim é que aprendemos o quanto há de resistência em nós mesmos. Aceite minha solidariedade pelo que hoje age em lembrança sobre o seu viver.
Cadinho RoCo

Juh Lima disse...

Nossa, menina. Nem sei o que comentar! Me emocionei muito com seu texto. Sinto muito e te desejo muito força. Pode contar comigo, para qualquer coisa! ;)
Beijocas ;*

*Lusinha* disse...

Tô com o coração doído e a garganta apertada. Já perdi alguém especial para mim, meu avô paterno, mas acho que não chega perto do que eu sentiria se fosse minha mãe (ou pai).
Infelizmente sei que a dor não passa... Ela só diminui com o tempo ou vamos aprendendo a lidar com ela.
Bjitos!

Luisa Pinheiro disse...

Sabe, Debbys, é muito difícil pra mim que tenho meus pais vivos saber como lidar contigo... Tive uma amiga que perdeu o pai e nunca falamos muito sobre isso. Meu ex-namorado perdeu o pai antes mesmo de completar um ano e pude perceber o quanto a vida dele foi influenciada por essa perda precoce...
Fiquei bem emocionada lendo esse texto e te admiro muito por ter tirado força de não sei onde... acho que eu não seria tão forte se acontecesse comigo. Fico muito feliz também que você encara de uma forma boa os acontecimentos, porque tudo o que tua mãe ia querer é que tu continuasse vivendo tua vida...
Beijos!

.tai. disse...

Muito triste toda essa história sua, mas o que é bom é que você não deixou o sofrimento tomar conta da sua vida, foi lá e soube vencer todos os obstáculos que tinha pela frente.
=D
bjus

Daniela disse...

Nossa, eu sempre falei que essa história me emocionava, e não deu pra segurar as lágrimas agora!
A única soluçao é pensar que ela está em um lugar melhor e que lá olha por você.
Parabéns por ser forte, não sei o que faria se fosse comigo.

Bjs

Dias disse...

Cara, to muito emocionado. Odeio vocês me deixando emocionado com esses posts, acho tão gay.. brincadeira. Cara, eu quase chorei (nunca choro com coisas escritas, não sei porque). Mas foi dos mais tristes que eu li. Vou até dar atenção pra minha mãe agora.

Rebeca disse...

Querida, eu chorei.
Juro.
Logo eu que tenho tantos problemas com a minh mae... poxa, vou passar a dar mais valor a ela, e a quem realmente me ama!
Amiga, nao importa o que aconteça, voce sempre tera pessoas (tipo,eu claro) que voce pode contar!
Lindo o post, eu amei e chorei =')

beijos e mega milhoes de estrelinhas poderosas pra voce :*

Janaína Morais disse...

Poxa,vc me fez chorar.
Bem triste.Eu perdi meu pai com 5 anos,mas não sofri tanto por naum ter tido tanta convivência.
Não posso imaginar viver sem minha mãe.
=/
Mas,a vida continua...logo vcs vão se encontrar.

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